CoƔgulos Sanguƭneos, Trombose Venosa Profunda e Flebite Superficial

CĆ©rebro

Todo mundo fala ou jĆ” ouviu falar sobre trombose, mas a trombose tem diferentes aspectos e apresentaƧƵes que devem ser elucidados. O termo trombose costuma vir acompanhado de um certo medo, isso porque vĆ”rias pessoas jĆ” ouviram histĆ³rias e algumas pessoas famosas jĆ” sofreram e hĆ” alguns relatos de casos de morte por trombose.

SĆ³ para se ter uma ideia, nos Estados Unidos, a cada ano dois milhƵes de pessoas desenvolvem trombose e dessas, trezentas mil morrem por causa disso.

Mas o que leva a se formarem esses coĆ”gulos? Como vocĆŖ fica sabendo se vocĆŖ tem um coĆ”gulo ou uma trombose? E o que vocĆŖ deve fazer se vocĆŖ suspeitar que tem uma trombose.

Essas sĆ£o as perguntas que ficam rodeando nossa mente. A boa notĆ­cia Ć© que tem resposta para todas essas perguntas. O que pode aliviar o nosso receio e diminuir a nossa chance de desenvolver uma trombose, ou mesmo de ter as consequĆŖncias graves de uma trombose.

Os fatores principais que contribuem para a formaĆ§Ć£o de um coĆ”gulo no nosso corpo sĆ£o o fluxo do sangue mais lento, o dano na parede da veia e mudanƧas na composiĆ§Ć£o do sangue (trĆ­ade de Virchow). O fator mais comum Ć© o fluxo sanguĆ­neo mais lento. Quando o fluxo sanguĆ­neo diminui, ele tende a coagular, por isso que os trombos normalmente sĆ£o descobertos apĆ³s a pessoa viajar de aviĆ£o ou uma longa viagem de carro. Nesses casos, como nĆ³s nĆ£o estamos movendo nossas pernas por um longo perĆ­odo durante a viagem, nossos mĆŗsculos nĆ£o tĆŖm a oportunidade de bombear o nosso sangue pelas veias de nossa perna.

A velocidade do sangue, portanto, acaba diminuindo e o trombo acaba se formando. Como nĆ³s ficamos muito apertados em assentos pequenos e isso acaba dificultando a movimentaĆ§Ć£o em viagens de aviĆ£o, a formaĆ§Ć£o desses trombos acaba sendo chamada de ā€œsĆ­ndrome da classe econĆ“micaā€ ou ā€œa trombose do viajanteā€.

Da prĆ³xima fizer uma viagem internacional de aviĆ£o, preste atenĆ§Ć£o que nas revistas que estĆ£o Ć  sua frente, normalmente tem um folheto explicativo sobre a trombose venosa profunda e, nesse folheto, hĆ” a sugestĆ£o de vocĆŖ flexionar as suas pernas e movimentar os seus pĆ©s durante o voo.

A intenĆ§Ć£o disso Ć© contrair o mĆŗsculo da panturrilha e fazer o seu sangue mover mais rapidamente, diminuindo a tendĆŖncia de formar esse coĆ”gulo. O uso da meia elĆ”stica de compressĆ£o aumenta tambĆ©m o fluxo pelas veias. E essa Ć© uma outra maneira efetiva de reduzir as chances de desenvolver um trombo durante a viagem.

A segunda razĆ£o ou situaĆ§Ć£o que ajuda a formar o trombo nas veias, Ć© quando a parede venosa fica danificada. A resposta do nosso corpo a esse dano Ć© formar uma capa, uma camada protetora sobre a Ć”rea danificada da veia. Essa camada Ć© chamada de trombina e pode se expandir em um trombo que acaba bloqueando o fluxo sanguĆ­neo.

Esses danos na parede venosa podem ocorrer quando o indivĆ­duo machuca a sua perna ou faz uma cirurgia. Essa Ć© uma das razƵes porque os pacientes devem tomar medicamentos que afinam o sangue antes ou apĆ³s as cirurgias.

Outro motivo para danos nas paredes venosas Ć© a movimentaĆ§Ć£o repetida, como nos esportes, levando ao que Ć© chamado de trombose de esforƧo. Isso normalmente acaba resultando em trombos nos braƧos que podem acontecer em nadadores, jogadores de tĆŖnis e outros que movem o ombro repetidamente. Esse movimento repetido pode acabar pinƧando e comprimindo as veias dos braƧos, danificando-as.

O terceiro fator que contribui para formaĆ§Ć£o dos trombos Ć© a variaĆ§Ć£o da composiĆ§Ć£o do sangue. nĆ³s temos fatores sanguĆ­neos que desenvolvem o coĆ”gulo se nĆ³s precisarmos de um. Lembre-se que o coĆ”gulo normalmente Ć© uma coisa boa, nĆ³s podemos precisar de um coĆ”gulo se nĆ³s nos machucamos, para parar o sangramento. Quem nĆ£o consegue coagular tem outro problema, que Ć© a hemofilia e pode sangrar sem parar.

Outros fatores que nĆ³s temos em nosso sangue servem para dissolver o coĆ”gulo. Se nĆ³s temos um excesso ou uma falta de um desses fatores, nossa capacidade de formar ou dissolver os coĆ”gulos pode ser modificada.

Muitas dessas condiƧƵes sĆ£o genĆ©ticas e hereditĆ”rias, como por exemplo a mutaĆ§Ć£o do Fator V de Leiden, a mutaĆ§Ć£o da protrombina G20210A ou a deficiĆŖncia da proteĆ­na C ou a deficiĆŖncia da proteĆ­na S.

Outras alteraƧƵes podem ser causadas pelo uso de medicaƧƵes, como altas doses de hormĆ“nios, gravidez ou outras condiƧƵes mĆ©dicas, como um cĆ¢ncer, por exemplo.

Outra maneira do sangue mudar a sua composiĆ§Ć£o Ć© se nĆ³s ficarmos desidratados. Quanto mais desidratado, maior a chance de desenvolver um coĆ”gulo. Por isso Ć© sĆ”bio tomar bastante lĆ­quido e ficar longe de outros que causam desidrataĆ§Ć£o, como o uso de Ć”lcool em excesso em viagens.

Os coƔgulos podem se formar tanto em veias superficiais quanto nas veias profundas. Quando esses trombos se formam em veias profundas, a doenƧa Ʃ chamada de trombose venosa profunda. Quando ela se forma em uma veia superficial, ela Ʃ chamada de tromboflebite superficial.

Quando ocorrem em veias superficiais, ela Ć© bem prĆ³xima da pele e a pessoa acaba notando que a veia fica dura, vermelha e dolorosa quando a tromboflebite superficial estĆ” presente.

Em alguns casos a trombose venosa profunda pode ocorrer junto com a trombose venosa superficial e assim, o paciente deve passar em consulta com seu cirurgiĆ£o vascular para fazer um ultrassom e determinar se Ć© isso que estĆ” acontecendo.

Quando ocorre a formaĆ§Ć£o de um coĆ”gulo, existem trĆŖs desfechos para esse trombo:

  • Se desprender e mover atravĆ©s da circulaĆ§Ć£o atĆ© os pulmƵes, causando um tromboembolismo pulmonar, que pode levar Ć  falta de ar, dor no peito e atĆ© Ć  morte. Em casos mais raros esse coĆ”gulo pode se mover atravĆ©s da circulaĆ§Ć£o venosa e, no coraĆ§Ć£o, encontrar uma conexĆ£o anormal que pode levar este trombo para a circulaĆ§Ć£o arterial e, das artĆ©rias, ir para o cĆ©rebro ou para alguma outra
  • O coĆ”gulo pode tambĆ©m ser reabsorvido e formar uma cicatriz dentro da veia e essa cicatriz pode obstruir o fluxo sanguĆ­neo e deformar a vĆ”lvula. Deformando a vĆ”lvula e havendo fluxo dentro da veia, esse sangue pode mover tanto para cima ou para baixo, o que nĆ£o Ć© normal. Esse fluxo para baixo Ć© chamado de refluxo, e pode levar a vĆ”rios problemas, como inchaƧo, dor crĆ“nica e ulceraĆ§Ć£o da pele, com feridas de longa duraĆ§Ć£o. Quando isto acontece, isso Ć© chamado de sĆ­ndrome pĆ³s trombĆ³tica, leva aos sintomas da insuficiĆŖncia venosa crĆ“nica.
  • E o terceiro desfecho seria o trombo que se dissolve e deixa a veia em uma boa condiĆ§Ć£o.

Obviamente nĆ³s gostarĆ­amos que todos os coĆ”gulos se dissolvessem e deixassem a veia funcionando normalmente. Existe a chance disso acontecer se a pessoa procura os cuidados mĆ©dicos quando o trombo se desenvolve.

Mas como saber se vocĆŖ pode ter um trombo dentro das veias?

Os sintomas da trombose venosa sĆ£o

  • Dor nas pernas, normalmente no tornozelo, que piora quando vocĆŖ se move.
  • InchaƧo das pernas.
  • Aparecimento sĆŗbito de cĆ£ibras que nĆ£o melhoram.
  • Falta de ar ou dor no peito quando faz uma inspiraĆ§Ć£o profundamente
  • Uma Ć”rea dolorosa, vermelha, dura, na perna, principalmente no trajeto de uma veia varicosa.

No pronto socorro ou mesmo no consultĆ³rio mĆ©dico, um teste chamado D-dĆ­mero pode sugerir se a pessoa tem ou nĆ£o a trombose, mas o diagnĆ³stico preciso vai necessitar um exame de imagem.

Na perna, normalmente esse exame Ć© um ultrassom ou ecodopler.

Para trombos nos pulmƵes o exame de preferĆŖncia Ć© a tomografia computadorizada, embora outros tambĆ©m possam ser realizados dependendo da sua disponibilidade.

Assim que um trombo Ć© descoberto, sua localizaĆ§Ć£o identificada e sua extensĆ£o vista, o histĆ³rico mĆ©dico levantado, pode-se determinar o melhor tratamento.

Para trombos que estĆ£o obstruindo o fluxo sanguĆ­neo dos pulmƵes ou trombos muito grandes nas pernas ou na pelve e que estĆ£o causando sĆ©rios problemas se nĆ£o forem dissolvidos, existe uma medicaĆ§Ć£o que pode ser injetada por horas para dissolver esses coĆ”gulos. Essa Ć© a terapia trombolĆ­tica, que requer que se fique internado no hospital, e sĆ³ deve ser realizada em casos bem selecionados e precocemente.

Para a maioria das outras tromboses mais simples, o uso de uma medicaĆ§Ć£o injetĆ”vel ou via oral permite que vocĆŖ continue as suas atividades normais.

Essas medicaƧƵes sĆ£o chamadas de anticoagulantes e sĆ£o tomadas diariamente por um perĆ­odo que pode variar de trĆŖs, seis ou mesmo doze meses depois da formaĆ§Ć£o do trombo, dependendo da sua situaĆ§Ć£o.

Outra parte importante do tratamento Ć© o uso das meias elĆ”sticas de compressĆ£o todos os dias. Isso aumenta sobremaneira a melhora dos sintomas e a chance de vocĆŖ desenvolver uma insuficiĆŖncia venosa crĆ“nica, chamada de sĆ­ndrome pĆ³s trombĆ³tica.

Caminhar ou fazer algum tipo de exercĆ­cio vai fortalecer a musculatura que bombeia o sangue pelas suas pernas e melhorando a sua circulaĆ§Ć£o. Se vocĆŖ desenvolveu uma trombose, existe uma grande chance de apresentar outra durante a sua vida. EntĆ£o a melhor maneira Ć© se prevenir.

Para fazer isso, fique consciente das suas pernas. Ou seja, se vocĆŖ estĆ” sentado por muito tempo ou de pĆ©, parado por muito tempo, movimente os seus tornozelos repetidamente tentando se levantar ou caminhar por um minuto ou dois a cada trinta minutos parado.

Use meias elĆ”sticas de compressĆ£o quando estiver de pĆ©, parado ou sentado por muito tempo, principalmente quando for viajar.

Se vocĆŖ ou alguĆ©m da sua famĆ­lia tiver histĆ³ria de trombose, pergunte para seu mĆ©dico sobre os testes sanguĆ­neos que podem determinar se vocĆŖ tem uma heranƧa genĆ©tica ou uma prĆ©-disposiĆ§Ć£o para formar trombose.

Em alguns casos pode ser necessƔrio o uso de anticoagulantes antes de viagens ou cirurgias.

E se vocĆŖ desenvolver qualquer um dos sintomas listados anteriormente, certifique-se de procurar ajuda mĆ©dica assim que possĆ­vel. O cirurgiĆ£o vascular Ć© o mĆ©dico recomendado para avaliaĆ§Ć£o na vigĆŖncia da trombose venosa, o hematologista Ć© o especialista no tratamento das doenƧas do sangue e trombofilias, mas muitos outros profissionais podem atuar no seu tratamento durante a internaĆ§Ć£o, como o pneumologista, o mĆ©dico intensivista e outros.

Autor: Prof. Dr. Alexandre Amato
* Imagens do banco de imagens: Dreamstime.com – Thrombosis

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