Ao observar uma mulher com pernas desproporcionais ao corpo, muitos podem pensar que se trata simplesmente de excesso de peso ou sedentarismo. No entanto, por trás dessa aparência pode se esconder o lipedema, uma complexa condição médica de origem genética que vai muito além da estética. Na maioria dos casos, essa doença atinge exclusivamente mulheres e está intrinsecamente ligada às oscilações hormonais, sendo raro em homens. Embora pareça similar à obesidade, seu principal sintoma – o acúmulo de gordura “doente” que não responde à dieta ou exercício regular – destaca sua peculiaridade. Mas isso é apenas a ponta do iceberg. O lipedema pode também causar inchaço, dor, hematomas inexplicáveis, alta sensibilidade e outros sintomas que comprometem a qualidade de vida das pacientes. Neste artigo, mergulharemos profundamente nessa condição, desmistificando seus sintomas, desafios e opções de tratamento, com o objetivo de esclarecer, educar e apoiar aquelas que enfrentam esse desafio diariamente. Prepare-se para uma jornada de descoberta e compreensão.
Sumário
O lipedema é uma doença crônica, de origem genética que atinge especialmente os membros inferiores de mulheres. Dificilmente um homem apresenta sinais de lipedema. Isso porque a doença também está relacionada a questões hormonais.
O sintoma mais comum do lipedema é o acúmulo de gordura na região das pernas. É uma gordura doente, que não é eliminada mesmo com dieta e exercícios físicos não direcionados. Aliás, essa é a diferença básica entre o lipedema e a obesidade. Além de depósitos de gordura nas pernas, o lipedema também pode causar:
- Inchaço;
- Dor;
- Hematomas sem motivação aparente;
- Alta sensibilidade nas pernas;
- Sensação de cansaço, principalmente após passar muito tempo em pé;
- Perda gradual da mobilidade.
O diagnóstico do lipedema acontece através da observação desses sintomas, avaliando ainda a aparência do corpo da mulher. Normalmente, o corpo adquire um formato desproporcional, com a parte superior menor do que a parte inferior.
Qual o tratamento para o lipedema
Existem, basicamente, duas maneiras de tratar o lipedema e ambas devem ser utilizadas ao mesmo tempo para um alcance melhor de resultados. Uma é o tratamento clínico, com adoção de técnicas para controlar os sintomas. A outra é a cirurgia, um tratamento mais invasivo, mas também recomendado em determinados estágios da doença. Saiba mais a seguir.
Tratamento clínico
O tratamento clínico é voltado para o controle dos sintomas e para evitar a progressão da doença. E, em muitos casos, é suficiente para conter o problema, sem necessidade de cirurgia. Faz parte desse tratamento:
Prática diária de exercícios físicos
A atividade física estimula a circulação sanguínea, ajuda na perda de peso, eliminando o excesso de gordura.
Alimentação saudável
A paciente deve seguir uma dieta baseada em alimentos naturais, com ação anti-inflamatória, reduzindo ao máximo o consumo de industrializados, sal, gordura e açúcar.
Uso de roupas de compressão
A terapia compressiva é utilizada para reduzir o inchaço, que pode se agravar com o avanço da doença.
Drenagem linfática
A drenagem linfática deve ser realizada por um especialista e também tem o foco de reduzir o acúmulo de líquido corporal.
Uso de medicamentos
O médico vascular também pode prescrever o uso de alguns medicamentos, caso ele perceba essa necessidade.
Lembrando que o tratamento clínico é realizado de acordo com o objetivo da paciente que pode ser a melhora da mobilidade, a diminuição do volume dos membros e o controle das comorbidades que podem piorar a doença.
Tratamento cirúrgico
No tratamento cirúrgico, usamos a lipoaspiração para controlar o lipedema. A lipoaspiração nada mais é do que a retirada da gordura doente em excesso da região dos membros inferiores.
A cirurgia, no entanto, não elimina a doença por completo. Além disso, há um limite de gordura a ser aspirado e o resultado do procedimento varia de acordo com cada paciente. Ou seja, o tratamento cirúrgico não deve ser a única opção de tratamento indicada ou escolhida pela paciente.
Objetivos do tratamento do lipedema
Quando a mulher sofre os incômodos do lipedema, é natural que ela pense em eliminar aquele desconforto, principalmente por causa da questão estética. Entretanto, esse não é o foco principal do tratamento. Os objetivos seguem a ordem de prioridade a seguir:
Evitar a perda da mobilidade
Caso o médico perceba que a paciente poderá ter a sua mobilidade reduzida ou até mesmo perdida em alguns anos, por causa do avanço da doença, ele deve iniciar o tratamento com esse objetivo primordialmente.
Redução dos sintomas
Em segundo lugar, temos o tratamento com foco na redução dos sintomas. É quando o tratamento tenta eliminar os desconfortos provocados pelas dores, cansaço nas pernas, baixa mobilidade, inchaço, hematomas frequentes etc.
Melhora da aparência das pernas
Por fim, temos o terceiro objetivo do tratamento do lipedema que é melhorar a aparência das pernas, reduzindo consideravelmente a quantidade de gordura e dos nódulos que se formam na região.
Percebemos, então, que a estética não é o objetivo central do tratamento da doença, mas proporcionar à mulher uma vida mais saudável e longe do desconforto físico.
A cirurgia é mesmo necessária em todos os casos?
Não. Apesar de todos os efeitos benéficos da lipoaspiração para o controle do lipedema, ela não é obrigatória. Pode ser o melhor a ser efeito nas fases mais agudas da doença, quando a mulher também já está sofrendo com o linfedema, mas não é garantia certa de resultados em nenhum dos casos. Resultados variam entre as mulheres.
Como dissemos, dependendo de cada caso, o tratamento clínico pode ser suficiente para atender às necessidades da mulher naquele momento, sem que ela tenha que recorrer a um procedimento cirúrgico.
O tratamento do lipedema elimina a doença?
O lipedema é uma doença que não tem cura. Além disso, a causa tem origem genética. Portanto, o tratamento não tem o objetivo de acabar de vez com a doença, uma vez que não há como retirar o gene causador do problema.
Tanto o tratamento clínico quanto o tratamento cirúrgico não são definitivos, ou seja, não eliminam o lipedema. Em alguns casos, é possível que a doença volte a se manifestar através dos mesmos sintomas, inclusive com o excesso de gordura nos membros.
Desta forma, entendemos que a mulher deve fazer uma escolha bem pensada, sabendo dos resultados de cada procedimento ao qual ela resolva se submeter.
Assim, ela não mais enxerga a lipoaspiração como algo definitivo, mas sim como um procedimento auxiliar que pode ser tão eficaz quanto o tratamento clínico e que ambos devem caminhar juntos.
Alinhando objetivos com o seu médico
Antes de se submeter a uma cirurgia, é importante que a mulher converse com o seu médico de confiança e conheça a real opinião dele a respeito do seu problema. O objetivo dessa conversa é alinhar objetivos.
Isso é muito importante porque, muitas vezes, a mulher já não aguenta mais sofrer com o lipedema e toma a decisão do tratamento cirúrgico em meio a uma crise inflamatória, acreditando que ficará livre da doença. E não é isso que acontece.
A decisão deve ser feita de forma consciente, com total conhecimento dos fatos e consequências. Todas essas informações devem ser repassadas pelo médico. Por isso, é fundamental estabelecer uma relação de confiança entre as partes.
Como vimos, o tratamento do lipedema existe e deve ser bem alinhado entre médico e paciente, sempre levando em conta a individualidade de cada caso. Claro, é preciso lembrar que o lipedema não tem cura, mas que o tratamento é eficaz para evitar a progressão da doença, garantindo mais qualidade de vida à paciente.