Você já ouviu falar sobre insuficiência venosa crônica? Apesar de ser um problema muito frequente, muitas pessoas desconhecem suas complicações a longo prazo e acabam não buscando o tratamento adequado. A trombose venosa na perna é uma das causas desse problema, que pode resultar em sintomas como inchaço, manchas escuras e até feridas nas pernas e tornozelos. Mas não se preocupe, existem diversos tratamentos eficazes para controlar e tratar a insuficiência venosa crônica. Quer saber mais sobre o assunto? Continue lendo este artigo do renomado Prof. Dr. Alexandre Amato.
Sumário
Neste vídeo, o Dr. Alexandre Amato, cirurgião vascular e endovascular do Instituto Amato, fala sobre insuficiência venosa crônica, que é uma alteração da pele e da gordura abaixo da pele decorrente de uma insuficiência venosa, refluxo venoso, hipertensão venosa ou varizes. Essa condição pode desencadear manchas, eczema, áreas que descamam, coçam, uma pele bem endurecida, que perde a elasticidade, que é a lipodermatoesclerose e pode também ter lesões mais avançadas, como feridas e úlceras venosas. O tratamento clínico é possível, mas muitas vezes o tratamento cirúrgico, mesmo minimamente invasivo, com laser ou radiofrequência, pode ser mais benéfico para o paciente. A insuficiência venosa crônica pode ser uma fase mais avançada de quem tem varizes e esses pacientes precisam de uma atenção maior.
Olá, sou o dr. Alexandre Amato, cirurgião vascular e endovascular do Instituto Amato e hoje nós vamos falar um pouquinho sobre insuficiência venosa crônica, que é muito frequente e as pessoas confundem com varizes, porque elas estão relacionadas. É possível existir varizes sem a insuficiência venosa crônica e também é possível a insuficiência venosa crônica sem a existência das varizes. Apesar disso, elas estão interligadas. A insuficiência venosa crônica é a alteração da pele e a gordura abaixo da pele decorrente de uma insuficiência venosa, de um refluxo venoso, de uma hipertensão venosa ou mesmo das varizes. Então essa alteração na pele e subcutâneo pode desencadear e aparentar como manchas, como eczema, áreas que descamam, que coçam, uma pele bem endurecida, que perde a elasticidade, que é a lipodermatoesclerose e pode também ter as lesões mais avançadas, como as feridas, as chamadas úlceras venosas. A gente classifica o paciente que tem refluxo venoso, que tem doença venosa entre 1 a 6. Os pacientes que têm uma classificação acima de 3 já se considera a insuficiência venosa crônica, principalmente por causa do inchaço. Falado isso, então dá para perceber que quem tem insuficiência venosa crônica já tem a fase mais avançada da doença venosa, necessitando de um tratamento muitas vezes um pouco mais intervencionista, um pouco mais agressivo. O tratamento clínico pode ser feito, mas tem que se acompanhado de perto pelo cirurgião vascular, mas muitas vezes o tratamento cirúrgico, mesmo que seja minimamente invasivo, com laser ou radiofrequência, pode ser mais benéfico para o paciente. Então a insuficiência venosa crônica pode ser uma fase mais avançada de quem tem varizes e esses pacientes precisam de uma atenção maior. Gostou deste vídeo? Aproveite e curta nossos outros no nosso canal na internet. Muito obrigado.
Introdução
A preocupação está focada no momento, mas poucos lembram sobre as complicações a longo prazo dessa trombose.
Algumas pessoas dizem “Se as suas veias te incomodam, você não precisa fazer nada com elas.” Ou pior: “Não adianta tratar porque elas voltam.”. Ou ainda “Junte todas as veias varicosas para tratar somente depois de todas as gestações.”
Da mesma maneira, pessoas que têm trombose venosa na perna, recebem um monte de informação sobre os medicamentos que afinam o sangue. A preocupação está focada no momento, mas poucos lembram sobre as complicações a longo prazo dessa trombose.
Por causa dessas informações incompletas, as pessoas acabam por muitas vezes não passando em consulta com o cirurgião vascular e surpreendem-se quando começam a desenvolver sintomas como inchaço nos pés, tornozelos e pernas, mancha escura, mancha ocre, em volta do tornozelo, um espessamento e endurecimento da pele em volta do tornozelo e feridas ou úlceras nas pernas ou tornozelos. A Insuficiência Venosa Crônica se refere aos danos causados pela hipertensão venosa e refluxo venoso na pele e subcutâneo.
Por que isso acontece e quem deve se preocupar com isso?
A cada ano que passa, mais pesquisas são feitas e mais nós entendemos sobre esse assunto. Dentre tantos problemas de saúde existentes, esse é um problema muito frequente, bem estudado, benigno e com muitas opções de controle e/ou tratamento. Então não há porque sofrer.
A circulação sanguínea e o papel das veias na bomba do sangue de volta ao coração
Para entender esse problema, o que acontece e o que se pode fazer para evitar, vamos entender como nossa circulação funciona. O que pode acontecer de errado e o que nós podemos fazer para prevenir problemas no futuro.
Nossa circulação começa quando o coração, que é uma bomba propulsora, bombeia o sangue através de nossas artérias e veias para todos os tecidos de nosso corpo. Para nossas artérias o trabalho é relativamente fácil, pois a bomba cardíaca é muito forte e a força da gravidade ainda ajuda a empurrar o sangue até os pés.
Depois que os tecidos como músculo, pele, gordura e outros usam o oxigênio e os nutrientes do sangue, eles retornam o dióxido de carbono e outras substâncias que são consideradas restos de nosso metabolismo para nossas veias.
A partir daí nossas veias têm que bombear o sangue de volta para nosso coração. Para que isso aconteça, as veias utilizam a força dos músculos da perna para empurrar o sangue para cima. Para que isso funcione, as veias dependem das válvulas unidirecionais, que mantêm o sangue em uma direção só, em direção ao coração. Durante a contração da musculatura, as veias são “espremidas” e o sangue é forçado para cima.
Quando as doenças venosas acontecem normalmente ocorre porque as válvulas deixaram de funcionar. Nas nossas veias profundas, as válvulas se danificam quando a pessoa tem uma trombose venosa profunda, ou seja, um coágulo dentro da veia. E esse coágulo ao ser absorvido deixa cicatrizes na parede da veia.
Nas nossas veias superficiais, o dano ocorre quando há inflamação crônica no nosso corpo, que causa um enfraquecimento da parede venosa e a dilatação dessa veia. Quando essas veias dilatam, as válvulas se afastam e deixam de funcionar, deixando também de resistir à gravidade, de modo que o sangue acaba retornando com pressão inversa para os pés.
Consequências da hipertensão venosa
Quanto mais sangue vai para os pés, aumenta a pressão venosa no local, sendo que no tornozelo essa pressão é ainda maior. À medida que essa pressão aumenta, ocorre um estresse maior nas pequenas veias da superfície da pele e elas também dilatam, gerando o aparecimento de aglomerados de teleangiectasias, que ficam visíveis na parte interna e externa do tornozelo. Esse amontoado de veias próximo do tornozelo é conhecido como “coroa flebectásica”.
O aumento da pressão venosa, associado à fraqueza da parede da veia, permite que fluidos atravessem a veia, causando o edema (inchaço) nos pés, tornozelos e pernas. Em algum momento, além do fluido, células vermelhas também passam a sair das veias e a nossa pele a absorver o ferro contido dentro das células vermelhas, transformando-as numa cor marrom.
No começo esse marrom aparece como pequenos pontos ou manchas em volta do tornozelo, mas com o passar dos anos, a área inteira do tornozelo pode se tornar amarronzada. Essa mancha marrom é conhecida como hiperpigmentação ou dermatite ocre. Quando há inflamação na área, a cor pode estar mais vermelha do que marrom e isso é chamado de dermatite, que pode estar associada ao eczema.
Quando toda a parte inferior da perna perde a sua cor original e a pele fica mais espessa, dura ou parecendo couro, isso é uma condição chamada lipodermatoesclerose. Todas essas mudanças na aparência da perna e do tornozelo acusam para o mesmo problema, que é o aumento da pressão venosa. Quando muito alta, a hipertensão afeta a saúde da pele nessa região e se o problema venoso não for corrigido, essa pele vai sucumbir e uma ferida vai abrir, mesmo sem haver nenhum trauma. Essa ferida se chama úlcera venosa.
Quando a pessoa apresenta qualquer uma dessas complicações com as suas veias varicosas ou por causa de uma trombose venosa anterior é dito que ela tem insuficiência venosa crônica.
Recomendação para quem apresenta sintomas
Se você já teve uma trombose venosa nas pernas ou se você tem veias varicosas ou qualquer um dos sintomas nas pernas, com edema, dor, sensação de peso, cãibras, você deveria se consultar com um especialista em veias, que é o cirurgião vascular.
Um dos exames importantes que o flebologista ou cirurgião vascular vai realizar é o ultrassom venoso, ecodopler venoso das pernas ou mapeamento venoso. O ecodopler é um exame não invasivo, que não dói e que identifica claramente se você possui veias que estão levando sangue no sentido errado. Consegue também avaliar a gravidade da situação. A pletismografia é outro exame utilizado para avaliar não só o tempo de enchimento venoso, que indica a insuficiência venosa, mas também a eficácia da bomba da panturrilha.
O exame visual das pernas também vai ajudar o médico a considerar se você possui veias que estão levando sangue no sentido errado. Consegue avaliar também a gravidade da situação. O exame das pernas também vai ajudar o médico a identificar se você possui doença venosa que já está afetando a pele e subcutâneo.
A meia elástica
Se você apresenta qualquer uma dessas modificações na sua pele ou se o seu médico acredita que o fluxo venoso está colocando você em risco de ocorrer essas mudanças, existem vários procedimentos que podem mudar esta situação. O mais simples e mais econômico é o uso de meia elástica de compressão, que deve ser indicado pelo especialista. Existem doenças arteriais que contra indicam o uso da meia, além da alergia ao silicone e tecido da meia. Frequentemente o uso de meia 3/4 ou até o joelho é suficiente e pode ser comprada em qualquer casa de material médico cirúrgico.
Mas o bom uso da meia requer que a perna seja adequadamente medida. Meia elástica não se compra por aproximação do tamanho, é preciso medida precisa. O cirurgião vascular vai indicar qual o grau de compressão que essa meia deve ter: alta, média ou baixa. Ao usar essa meia todos os dias, principalmente nos momentos em que fica muito tempo de pé ou sentado, você vai ajudar o seu corpo a bombear o sangue de volta para o coração e vai dificultar a ação da gravidade que puxa o sangue para baixo evitando o aumento da pressão venosa nas pernas.
Alguns estudos também mostraram que o uso da meia de pressão graduada também aumenta o transporte de oxigênio para a pele. Então com o uso das meias elásticas a gente permite que a pele se torne mais saudável e muitas vezes há uma melhora nessa coloração, do inchaço e do endurecimento da pele. Sabemos das dificuldades de uso da meia no calor, por isso meias com tecidos de boa qualidade e bem medidas são essenciais para o êxito.
Recentemente atletas de alta performance tem utilizado a meia elástica como complemento e auxilio para melhores resultados. Isso ainda carece de maiores estudos.
Enquanto as meias elásticas são muito importantes no controle da insuficiência venosa crônica, para uma solução a longo prazo, você vai precisar mais do que apenas as meias elásticas.
Com o exame de ultrassom nós podemos ver exatamente quais veias estão funcionando e quais não estão e assim determinar qual o melhor tratamento para você.
Conclusão
Atualmente existem diversos tratamentos que permitem uma recuperação bem rápida. Dependendo do tratamento selecionado, pode ser feito no consultório ou Day Hospital ou em hospitais, com alta precoce, de modo que o retorno às atividades diárias ocorre no dia seguinte.
Por muito tempo as pessoas que possuíam insuficiência venosa crônica estavam fadadas a uma vida de pernas inchadas, dor e úlceras recorrentes. Atualmente os cirurgiões vasculares estão equipados com um conhecimento muito amplo da doença e tratamentos muito eficazes, portanto insuficiência venosa crônica no século XXI é uma condição tratável que não precisa limitar uma pessoa ou ser responsável por diminuição da qualidade de vida.
Autor: Prof. Dr. Alexandre Amato
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